Entrevista com BUZUCA: tatuagem foi sempre moda?

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Entrevista com BUZUCA: tatuagem foi sempre moda?

A  tatuagem é muito mais antiga do que se pensa: os primeiros registros datam de 3370 e 3100 antes de Cristo. A descoberta dessa data veio do achado de Ötzi, ou a Múmia do Similaun, um fóssil humano encontrado nos Alpes, que continha 61 tatuagens.

Os lugares tatuados coincidem com pontos usados na acupuntura, o que pode identificar uma relação entre essa prática de cura ancestral por meio da tatuagem, assim como denotar um uso medicinal dos desenhos marcados na pele.

Outras múmias tatuadas foram encontradas na Groenlândia, Alasca, Sibéria, Mongólia, China, Egito, Sudão, Filipinas e nos Andes, demonstrando que a prática da tatuagem surgiu em diversas partes do globo e em contextos históricos diferentes, tendo um significado único em cada cultura.

No Antigo Egito, cerca de 3100 antes de Cristo, a prática da tatuagem era reservada apenas para as mulheres, tanto para marcar as pertencentes ao harém do rei quanto para fins ritualísticos. As mulheres grávidas, por exemplo, tatuavam as coxas, abdômen e peito, acreditando que o parto teria mais sucesso desse modo. Outra classe que usava tatuagens no Antigo Egito era a das sacerdotisas da deusa Hathor.

As primeiras tatuagens eram feitas, principalmente, por meio do uso de instrumentos feitos de ossos e aplicação de tinta vegetal nas camadas mais superficiais da pele, numa técnica muito parecida com a Stick and Poke Tattoo, cada dia mais popular na atualidade.

Anos 90/2000

Interessante conhecer um pouco mais da incrível história da tattoo, né? Mas e os tatuadores que começaram suas carreiras ali nos anos 90, início dos anos 2000, como será que foi para eles?

Hoje nós convidamos vocês para conhecerem a história de BUZUCA, um dos grandes nomes da tattoo atualmente

Buzuca, nosso entrevistado, começou na tattoo, ali, por volta de 98/ 99, período em que falar sobre tattoo ou fazer tattoo era um tabu gigantesco! Nesse bate- papo, ele conta para a FIND  como se tornou apaixonado pela arte e um dos grandes nomes da tatuagem atualmente

1) Qual a sua cidade Natal? Quantos tatuadores existiam quando você começou?

Então vamos lá.  Sou natural do Rio de Janeiro.  E na minha época, quando eu comecei, não tinha muitos tatuadores, não.  Era mais regional, tinha um pessoal…  

Acho que a maior quantidade de tatuadores era no centro da cidade. Alguns já considerados profissionais, outros mais tatuadores de rua. E tinha uma galera também na Savassi, né?

A Savassi devia ter uns 15, 20 tatuadores espalhados assim.
No centro devia ter também, em volta disso, né?  Vamos contar como profissionais. 

Um bairro ou outro tinha um, dois tatuadores, assim. Era mais centro e Savassi.  

“Eu comecei por meados de 97, 98 ! De 17 a 18 anos de idade eu comecei.”  Nos revelou o artista! 

 

2) Como foi ser artista urbano nos anos 90? Foi fácil? Como você aprendeu a montar um estúdio?

Ser um artista nessa época foi muito difícil, né?
Eu estava saindo de 17 para 18 anos, já estava precisando trabalhar, né? Já virando um homem.
E a tatuagem, ainda mais naquela época, era mais um hobby, né?
Sempre desenhei desde pequeno, gostei de desenhar muito.  

Buzuca revelou que começou a tattoo como um hobby, ainda mais ali no final dos anos 90, né, segundo ele: 

“Conheci a tatuagem, me apaixonei. Mas sempre foi um hobby”.


Era de vez em quando que eu conseguia fazer uma tatuagem. Comecei como todos os outros, começaram também. Fazendo tatuagem em alguns amigos, em casa mesmo.
Com  o tempo eu senti necessidade de fazer uma coisa mais profissional, né? E aí foi onde eu comecei a buscar o que eu precisava para montar um estúdio, né?  Um básico, né  Mas bem feito.

Se tratando de Buzuca vocês conseguem imaginar o que era o básico, né?! O cara é detalhista e perfeccionista como ninguém! 

 Segundo o tatuador, nessa época eu já tinha uns amigos que já eram considerados profissionais, que já tinham lojas, e aí me disseram sobre normas da vigilância sanitária.

A vigilância sanitária nessa época já era bem rígida, porque a tatuagem começou a aparecer, sair da marginalidade e começar e a realmente virar uma profissão respeitada, com normas e regras impostas pela ANVISA. O início foi bem difícil para mim, eu não sabia das regras da vigilância sanitária, não sabia como montar um estúdio e nem sequer como cobrar pelo meu trabalho! Foi um momento árduo! Vocês imaginam o sufoco que deve ter sido para ele?

 

3) Por que ter estúdio privado? 

Pra você ficar com um ar mais bonito, né?
Você ficar trazendo um pessoal que às vezes você nem conhece, às vezes você tá ali tatuando horas e horas, já tá de noite, a pessoa tá dentro da sua casa ( no início os estúdios eram dentro de casa).Então é muito bom ter um espaço separado, um que é a sua casa, e outro que você deixa seu trabalho, sabe?!
Além de ver tudo isso como muito profissional e respeitoso e não um “quebra galho.” 
Então até pra cobrar um valor, quando tínhamos que atender em casa era complicado! 

4) Como funciona o seu processo criativo? 

O processo criativo hoje é bem diferente dessa época.


Nessa época não tinha esse tanto de ferramenta aí, do Google, esses bancos de imagens, não tinha nada, disse Buzuca.


Os tatuadores tinham alguns desenhos de outros tatuadores já mais antigos, e a gente se baseava muito nesses desenhos, tentando copiar esses desenhos, refazer figurinha…. Essas coisas.

Tinha nos chips, vinha uma figurinha do Taz, Taz Mania, aquelas coisas assim, a gente ficava tentando copiar aquilo ali pra aprender a desenhar melhor.


Era assim que o processo dele funcionava: “…eu imaginava alguma coisa e ia tentando trabalhar uma ideiazinha em cima daquilo, uma historinha, né?”

Quem é fulano? Quem é o… Vou dar um exemplo, quem é o Taz? 

No vídeo abaixo tenho certeza que você vai se lembrar do Taz!

 


Aí eu procurava saber quem que era ele e tentava imaginar uma historinha sobre aquilo ali.

 

5) Você acha que a credibilidade do seu estúdio é maior quando os clientes veem que vc tem cnpj e segue todas as normas de Biossegurança da ANVISA? Por que?

Ah nada como um ambiente limpo, com uma vista bonita, quadros lindos, uma música ambiente legal  e claro um tatuador bem vestido!
Que fala bem, fala sério.
Porque às vezes vai chegar um médico, vai levar a filha pra tatuar, eles não querem fazer com alguém rude, grosseiro, em um ambiente desagradável, pensa bem!


Então quando você conversa sério, explica certinho, o ambiente limpo, tem lá o CNPJ, tem tudo, alvará da via sanitária, passa mais confiança, né?
Com certeza, fora o trabalho, né? Um conjunto de tudo isso somam valores e fazem seu trabalho ficar mais famosos e você ser mais valorizado.

Para chegar até aqui eu estudei muito, eu ainda estudo muito todos os dias.

 Nessa época teve, não tem, né?
Associação de Tatuadores, a TAP. Hoje em dia se chama Associação dos Tatuadores e Perfuradores do Brasil (ATPB).

A TAP era muito boa, ela fez muito curso de biossegurança com a gente, a gente começou a entender muita coisa.
Então, agregou muita coisa para a gente.
E acredito que ela esteja de volta aí também.
E vai somar, é bom porque hoje tem muita artista boa, menino bom, menino novo, muito desenhista, só que eles não entendem da biossegurança.
Às vezes eles estão cometendo um erro ali na hora de tatuar, de manipular os produtos deles ali, e por falta de conhecimento eles acabam errando.

É importante ter a oportunidade de aprender essas coisas alguns detalhes na hora de montar uma bancada, na hora do procedimento, o que você deve fazer.

 

6) Qual a sua dica para quem está começando?

Uma das frases mais marcantes que Buzuca nos falou foi essa daqui: “ Vivo a tatuagem mesmo intensamente”. É por essas e por outras que o cara se tornou referência!

Pesquisei várias coisas diferentes, várias referências diferentes, às vezes até fora desse meio artístico nosso, busco em outras coisas, o óbvio de arte e tudo. É não desistir e não focar só no desenho da tattoo, mas também na biossegurança, que é muito importante.

Porque se for conversar aqui, a gente vai ficar aqui até amanhã falando.

 

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